O treinamento funcional cresceu muito em popularidade na última década e é uma das atuais tendências de mercado (Thompson, 2018). Porém, esse crescimento ocorreu de uma forma um tanto quanto desordenada e multifacetada (Stenger, 2018). Por exemplo, você já deve ter visto alguém executar exercícios sobre bases instáveis e dizer que é treinamento funcional. Também já deve ter visto pessoas chamarem aqueles circuitos metabólicos realizados ao ar livre de treinamento funcional. Mais recentemente, até o CrossFit tem sido chamado de treinamento funcional.
Mas, afinal, dentre esse mar de possibilidades e divergências metodológicas, o que, de fato, é treinamento funcional?
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A literatura científica atual apresenta uma definição mais objetiva do treinamento funcional, que considera algumas características que se repetem nas diferentes pesquisas relacionadas ao tema. Em suma, treinamento funcional é aquele cujo objetivo é aprimorar, de forma sinérgica, integrada e equilibrada, diferentes capacidades físicas (La Scala Teixeira et al., 2016; 2017). Em outras palavras, é um programa de treinamento que visa desenvolver simultaneamente todas (ou as principais) capacidades físicas, tais como força, resistência, potência, coordenação, equilíbrio, agilidade, etc. Parece simples, pois treinar essas capacidades físicas de forma isolada não é muito difícil. Mas o que torna o treinamento funcional complexo é a necessidade de treiná-las de forma integrada, juntas e misturadas.
Para isso, como as capacidades físicas são diferentes entre si, é coerente pensar que o treinamento funcional pode, de fato, ser multifacetado, ou seja, pode apresentar características distintas, como observado em muitas práticas populares. Porém, há uma característica que é comum em quase todas as pesquisas sobre o tema e, por isso, é considerada o “pilar” principal do treinamento funcional: o treinamento de força.
Mas o que muda entre o treinamento de força tradicional e o funcional?
A principal mudança é o objetivo. Enquanto que no treinamento de força tradicional os objetivos, geralmente, estão relacionados ao aumento da força e da massa muscular, na abordagem funcional o objetivo é aprimorar a força em conjunto com equilíbrio, coordenação, agilidade, velocidade, flexibilidade, etc. Essa diferença nos objetivos leva à adoção de critérios diferentes para seleção dos exercícios, conforme sugerido por alguns autores (Monteiro e Evangelista, 2015; Stenger, 2018):
Tradicional |
Funcional |
Foco sobre grupos musculares específicos | Foco sobre padrões de movimento |
Geralmente, uniplanares | Geralmente, multiplanares |
Estímulo local (um ou poucos grupos musculares) | Estímulo global (muitos grupos musculares) |
Uniarticulares e multiarticulares | Multiarticulares e multissegmentares |
Foco nas ações concêntrica, excêntrica e isométrica | Foco nas ações estabilizadoras (auxotônicas) |
Foco sobre força (diferentes manifestações) e hipertrofia | Foco sobre força (diferentes manifestações), mas também flexibilidade, agilidade, velocidade, coordenação, equilíbrio, estabilidade do core |
Estáveis | Estáveis e instáveis |
Além da diferença nos critérios para seleção dos exercícios, treinamento de força tradicional e funcional também apresentam diferenças nas estratégias de progressão. Enquanto que para promover aumento de força e hipertrofia, as estratégias convencionais de progressão associadas ao aumento do volume, da intensidade ou da densidade são bem recomendadas, para promover adaptações multissistêmicas o aumento da complexidade tem sido sugerido como estratégia mais adequada. O aumento da complexidade consiste em elevar o nível de dificuldade técnica do exercício, conforme sugerido abaixo, adaptado de La Scala Teixeira e Guedes Júnior (2016):
Baixa complexidade |
Alta complexidade |
Deitado, sentado | Em pé |
Execução bilateral | Execução unilateral |
Execução simultânea | Execução alternada |
Cargas estáveis | Cargas instáveis |
Maior base de suporte | Menor base de suporte |
Bases estáveis | Bases instáveis |
Execução unissegmentar | Execução multissegmentar |
Com feedback visual | Sem feedback visual |
Uniplanar/unidimensional | Multiplanar/tridimensional |
Execução lenta | Execução rápida |
Padrão de movimento cíclico | Padrão de movimento acíclico |
Genérico | Específico |
Isolado | Integrado |
Para os que desejam aprofundar os estudos sobre o tema, sugiro a leitura integral das referências abaixo, além do meu curso online. Bons estudos e ótimos treinos!
Referências (clique sobre o nome do autor para ser redirecionado):